quarta-feira, 14 de março de 2012

Geração subaquática: nova tecnologia estima potencial mundial de 50TWh no mar.

Testes são realizados desde 2003 pela austríaca Andritz Hydro; nova turbina deve entrar em produção industrial nos próximos anos

Parece até uma turbina eólica. Mas quem olha o equipamento mais de perto vê que se trata de uma nova tecnologia de geração de energia elétrica. Desenvolvida pela austríaca Andritz Hydro Hammerfest, a turbina de maré fica submersa e produz eletricidade a partir do fluxo das correntes marítimas. Segundo a companhia - que também fornece equipamentos aos principais projetos hidrelétricos do Brasil, entre eles Santo Antonio, Jirau e Belo Monte -, um estudo revelou que há um potencial explorável de 50TWh ao redor do mundo - isso se considerado o estado atual da tecnologia. Como comparação, a hidrelétrica de Itaipu, maior do gênero em geração de eletricidade, produziu 92,27 milhões de MWh no ano passado.

Os testes iniciaram-se em 2003, com a instalação da turbina HS300, de 300Kw de potência, nos mares da Noruega. A máquina foi conectada à rede local em 2004 e permaneceu rodando até 2007, quando foi retirada para fins de manutenção e avaliação de seu desempenho. Após remodelação, foi novamente colocada em operação em 2009.

“A HS300 demonstrou, durante seu período operacional, uma produção anual de 600MWh. No total, a turbina permaneceu funcionando por 16 mil horas”, afirma o especialista do setor de projetos da Andritz na Áustria, Moritz Pichler. “Após a remodelação, a máquina mostrou uma disponibilidade de 98%.”

Em dezembro de 2011, a companhia instalou em águas escocesas a HS1000, mais nova turbina para esse tipo de geração, agora mais potente, com 1MW - uma evolução do modelo inicialmente projetado. Ela foi conectada à rede local em fevereiro deste ano. “A turbina passará agora por uma fase comissionamento e testes, que deve durar entre seis de 12 meses, a fim de reunir o máximo de informações”, diz Pichler, que falou via e-mail com o Jornal da Energia. Segundo ele, a experiência na Escócia dará o passo “para a implantação do primeiro parque gerador de energia subaquático do mundo”.

O projeto da Andritz está sendo desenvolvido em parceria com a ScottishPower Renewables, controlada pelo grupo espanhol Iberdrola. Juntas, as empresas planejam um parque de 10MW no leito sul do mar de Port Askaig, na Escócia, que será conectado à rede e deve ter as obras iniciadas no segundo semestre de 2013. Embora o valor do investimento não possa ser revelado, o projeto prevê a instalação de dez máquinas tipo HS1000.

Processo de implantação e conexão à rede

O especialista da Andritz Hydro Hammerfest, Moritz Pichler, explica que as turbinas são instaladas por meio da utilização de navios equipados com um elevador específico para esse tipo de construção (foto). A escolha do tipo de embarcação vai depender das características locais, disponibilidade e viabilidade econômica.

Primeiro é preparada a infraestrutura que vai ancorar a turbina no fundo do mar. Em seguida, a turbina desce montada, já com as pás, e se fixa na subestrutura. A instalação da planta, assim como a conexão dos cabos submarinos que vão estabelecer a ligação do equipamento com a rede em terra, é feita por mergulhadores.
Não há, segundo Pichler, qualquer limitação de distância da costa, exceto quando os objetivos são os de diminuir os custos do investimento. “No entanto, há locais mais adequados, por exemplo, aqueles mais próximos de pontos de conexão com a rede em terra”, detalha Pichler.

A regra não vale para a profundidade. Por causa do risco de perfurar alguma embarcação, as turbinas são instaladas a uma profundidade entre 35 e 100 metros. A velocidade-pico da corrente também deve ser superior a três metros por segundo. O especialista explica: “em casos de velocidades inferiores, o projeto tem que ser repensado, talvez até uma redução da máquina para alcançar uma configuração mais econômica”.

Belo Monte

No Brasil, a Andrtiz Hydro é parceira da Alstom e da Voith no projeto eletromecânico da hidrelétrica de Belo Monte, em construção no Pará. De acordo com o CEO e presidente da Andritz no Brasil, Sérgio Parada, o contrato que a companhia tem com a usina do Xingu é da ordem de R$1,1 bilhão.

“A previsão é que comecemos a entregar os componentes ainda este ano. As comportas do vertedouro de Pimental estão em estado avançado e devem ser entregues nos próximos dias. Já as turbinas de Belo Monte devem começar a ficar prontas em 2014”, garante Parada.

A Andritz atua em tecnologia de geração hídrica. No Brasil são mais de 20GW instalados, enquanto no mundo esse número chega a 420GW, segundo o executivo. A fábrica da companhia por aqui fica em Araraquara, interior de São Paulo.

A estrutura acionária da empresa no País é dividida em 50%-50%, entre o grupo Inepar e a holding austríaca Andritz, controladora.

Fonte: Wagner Freire do Jornal da Energia

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